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terça-feira, 15 de novembro de 2011

mundos e portas

Malditos poetas, mau caminho na terra e no mundo que gosta de alcatrão, novo, laboratorial, sem base fóssil. O mundo tem mundos e portas dentro da porta do mundo, e as raparigas perguntam as respostas sem espelhos ou espelhos das portas no mundo da porta que a rapariga abre, antes da porta, no mundo do espelho apagado na porta de outro espelho... que poeta pode ser o que uma rapariga precisa do mundo? A porta - nada mais - sem espelho, luz ou sombra caída, quando a rapariga não vê a poesia e pergunta ao poema onde está o poeta; em que bolso escondes a chave? malditos poemas com poetas dentro, horas deixadas no espelho embaciado, sem estrela ou significante aparentemente plausível, ruminados e mesmo assim mundo para porta com portas e mundos dentro.

Raul Albuquerque


a rapariga bateu à porta do poeta e ele ofereceu-lhe um livro com cerejas dentro. e agora não conseguem parar de conversar. malditos caroços, que já nem atrapalham a poesia, porque ele retira-os, como se retiram as vírgulas em excesso de um texto cheio de soluços.
a rapariga e o poeta riem e choram com o mar à frente sem pontuação

rapariga anónima

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

DOS POETAS


DAS RAPARIGAS

Outros devem ir por longos caminhos
até aos obscuros poetas;
perguntam sempre a alguém
se não terão visto algum cantando
ou de mãos pousadas em cordas.
Só as raparigas não perguntam
que ponte leva às imagens;
sorriem só, mais luminosas que fiadas de pérolas
guardadas em conchas de prata.

Cada porta das suas vidas abre
para um poeta
e para o mundo.

Rainer Maria Rilke


DA RAPARIGA

malditos poetas, mau caminho, terra e o mundo gosta de alcatrão, mas o mundo tem mundos dentro e portas dentro da porta dos mundo e as raparigas perguntam as respostas sem espelhos, ou espelhos das portas no mundo da porta que a rapariga abre, antes da porta no mundo do espelho apagado na porta de outro espelho... que poeta pode ser o que uma rapariga precisa do mundo, o porta, nada mais, sem espelho, luz ou sombra caídos quando a rapariga não vê a poesia e pergunta ao poema onde está o poeta, em que bolso esconde a chave

Raul Albuquerque

sábado, 7 de maio de 2011

mares de palavras
vagas
dunas
mão cega que penteia
a areia

marés de palavras
vazas
prenhas
luas cheias
arado que rasga
sulca
cava
veia
vaivém
vai e vem
vem
palavras que soltam
versos ondulantes
dos meus ais

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CARNE

Bastou-me abrir a porta do apartamento para saber que ainda não saíras definitivamente da minha vida.
O teu cheiro entranhara-se no papel de parede tal como o fedor da serpente se recusa a abandonar a pele descascada. Tomo folgo, cerro os olhos, estico os braços e deixo que as mãos leiam o texto rugoso da parede do corredor. Quatro unhas como quatro garras escavam quatro sulcos, quatro rastilhos de pólvora.
A sala acolhe-me oca, muscular, do tamanho de um punho.
A luz intermitente de faróis amarelos projecta a sombra das lâminas dos estores nas paredes, nuas como telas. Aí se desenham os psicadélicos contornos dos móveis.
Deslizo descalça até ao centro. Em bicos de pé, levanto os braços e tento atingir a lâmpada vermelha.
O teu cheiro continua encarnado.
Abro a janela e deixo que o quarto respire fundo. Sirvo-me um Jameson bem aviado e bebo-o de um só trago. Jogo-me no sofá e sem querer derrubo o atendedor de chamadas.
O som da tua voz espalha-se, espesso e cavernoso: “Ana, … Ana, … atende caralho! Se pensas que isto fica assim, enganas-te… Vais arrepender-te…”.
Atiro-te pela janela fora: “AAAAAAAAnnnnnaaaaaaa!!!!!!”, gritas em pleno voo. Assisto, paralisada, à queda vertiginosa do aparelho que se desfaz em estrondosos estilhaços lá em baixo, na calçada.
Por instantes pensei que sufocava. Fecho a janela, corro os estores, apago a luz, ligo o esquentador. Tiro a roupa e meto-a na máquina de lavar. Entro na banheira, encho os pulmões de ar e mergulho.
Emerjo calma, conscientemente insípida, inodora e incolor.
Seco-me e sento-me na beira da cama. Calço as meias-ligas de nylon. Ponho aquele vestidinho preto e o colar de marcassite que me ofereceste. Vejo-me ao espelho vermelho e pinto os lábios.
Inesperadamente eufórica, canto na sala escura: “If it makes you happy, it couldn’t be that bad! If it makes you happy, why the hell are you so sad?”
Visto o casaco e confiro: chaves do carro, chaves de casa, cartão, chapéu, cachecol. Tranco a porta enquanto trinco uma maçã. Meto-me no carro e arranco.
Ligo a aparelhagem e levo com os Portishead: “… ‘cause nobody loves me, that’s true. Not like you do …” E pensar que há horas atrás apenas isto fazia sentido.

UM A UM

terça-feira, 3 de maio de 2011

CONTER HISTÓRIAS


Compro e meto-me em casa.
Por breves instantes esqueço tudo: o nome da rua, o número do bilhete de lotaria, o café ao lume, as letras que compõem as palavras. Sento-me na cama agarrada ao pacote. Dormes a sono solto. Quando acordares estou metida numa embrulhada.
Á medida que desfaço o laço, tomo coragem para contar-te tudo.
O cavalgar do meu coração é ensurdecedor, mas consigo dominá-lo a tempo, e tu não nem suspeitas.
Levanto-me de mansinho e esquivo-me até à casa de banho.
A luz ténue que entra pela goteira invade as paredes de azulejo e ilumina o frasquinho. Ergo os braços. Estou nas suas mãos. Deslizo-o por entre os dedos: o frasco é azul e a luz é dourada, a luz é azul e o frasco é dourado, o frasco é a luz e o azul é adorado. Levo-o à boca e bebo até à última gota.
Regresso à cama e deito-me a teu lado, amargurada.
Por longos instantes lembro-me de tudo: os nomes das coisas, os números das pessoas, o sabor das palavras que aquecem a rotina.
O gosto permanente da tinta esvai-se pelo canto da boca e discorre pelo travesseiro.
Posso dormir em paz. Chegou a aurora que esperei a vida toda.
Quando acordares, lê. Cansei-me de conter histórias.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ENSIMESMADA

A Semicolcheia não ligava a se|mínima à pausa homónima
até vê-la seminua.
Ficou semi|confusa.
Perdeu a cabeça e vagueou pela casa apenas de haste e colchete.
Já não gorjeia, a Semicolcheia.
Perdeu o pio.
Pos-se de canto.
Senta-se à beira da redondez da Semibreve.
Sente-se redundante.
E languidamente semi|suspira por uma pausa que lhe devolva a voz

segunda-feira, 21 de março de 2011

tenho muito apreço
pela sua pessoa
disse ele sem pressa
a palavras ditas não se olha o vate
são cinquenta euros
da cabeça aos pés
assinala o gesto semi-automático
e já agora acrescento
não vejo
não oiço
não beijo
só falo

pé ante pé
paredes meias
a braços com palavras
ditas pela metade
descalço-me
e meto-me na cama
pele ante pele
pela calada
turva madrugada


quarta-feira, 2 de março de 2011

EXÓNIMO PROCURA-SE

À procura de um exónimo...

Krystyna (In Polish)
Kristina (In Swedish, Czech, Russian and in German)
Kirsten (In Scandinavian)
Christine (In French and in English)
Christian (In English and in French)
Christina (In English)
Kristy (In English)
e ainda...
In Swedish: Kjerstin
In Scottish: Kirstin (F)
In Scandinavian and in German: Kristin
In Scandinavian: Stina
In Italian, Spanish, Portuguese and in Romanian: Cristina
In Italian: Cristiana
In Hungarian: Krisztina
In German, Scandinavian and in English: Christa
In German: Kristen
In German: Kerstin
In Finnish: Kirsi
In Finnish and Estonian: Kristiina
In English (Modern): Krystina
In English: Kristia
In Bulgarian: Hristina